A recuperação judicial (RJ) é um dos temas mais sensíveis entre credores. De um lado, significa um atraso ou até uma perda parcial do que era esperado receber. De outro, pode ser um caminho legítimo para empresas se reerguerem, mantendo empregos e garantindo o pagamento de parte da dívida. A grande questão é: como diferenciar uma RJ bem conduzida de uma tentativa de postergar o inevitável?
O número de pedidos de RJ aumentou bastante em 2024, muito por causa dos juros altos e do crédito mais caro. Mas, por outro lado, o número de falências caiu, o que mostra que esse processo tem ajudado muitas empresas a evitar o colapso. A Lei 14.112/2020 trouxe mudanças importantes, tornando a RJ mais acessível e permitindo, por exemplo, que empresas consigam crédito para continuar operando por meio do DIP Financing.
Negociar antes é sempre melhor
Para os credores, existem dois pontos-chave: primeiro, saber quando a RJ pode ser uma boa alternativa para recuperar pelo menos parte do crédito; segundo, tentar sempre negociar antes que a empresa entre no processo. Muitas vezes, um acordo bem estruturado evita que tudo vá parar na justiça e ajuda todas as partes.
Outro aspecto importante é levar a sério a análise da empresa e do plano de recuperação. É fundamental entender o histórico da empresa, seu real comprometimento em se reerguer e se o plano proposto faz sentido. A nova lei trouxe mais possibilidades de negociação direta e mediação, ferramentas que podem ajudar a evitar longas disputas judiciais e altos custos.
RJ não é sempre o vilão da história
A RJ não precisa ser vista como um problema sem solução, mas como um processo que, se bem conduzido, pode minimizar perdas. O credor que se mantém ativo na negociação e acompanha de perto a reestruturação tem mais chances de recuperar parte do investimento e evitar um longo período de incertezas.
No fim das contas, a recuperação judicial não é sempre o vilão da história. Quando bem aplicada, pode ser a alternativa que salva negócios e permite que credores recuperem parte do que lhes é devido. O grande desafio é separar os casos de empresas que realmente precisam desse mecanismo daqueles que só querem ganhar tempo para adiar um problema maior.
Autor: Volnei Eyng
Fundador e CEO da Multiplike, uma gestora de recursos com 25 anos de história e mais de 30 bilhões de crédito cedido.
Sócio benemérito da ABRAFESC;
Graduado em Administração e Economia;
MBA na HSM Management em Gestão de Negócios;
MBA em Macroeconomia.
