É nítido que o ano de 2025 está mais desafiante para a economia. Entre os diversos fatores que tem implicado nesse cenário, temos inflação alta, conflitos entre países, Trump de volta a Casa Branca, incertezas políticas e fiscais no Brasil, etc. Esses elementos impactam diretamente as expectativas para a política monetária, uma vez que alterações no cenário fiscal e político afetam a percepção de risco do mercado, influenciando a curva de juros e o câmbio.
A recente elevação da Selic para 14,25% e a sinalização de novos aumentos pelo Banco Central, reforçam um compromisso firme com o controle da inflação. O Boletim Focus dessa semana trouxe a expectativa de uma estabilidade para o IPCA, mas que ainda assim continua bem acima do centro da meta.
O que podemos entender, até comparando com boletins anteriores, é que o mercado já começa a refletir esse aperto monetário, com previsão do PIB recuando para 1,97% e o câmbio cedendo para R$ 5,92, indicando um desaquecimento da atividade econômica.
Esse ajuste da política monetária deve continuar em mais dois aumentos menores em 2025, enquanto a inflação não mostrar uma trajetória mais clara de convergência à meta, até por isso que o Focus ainda mantém a previsão de uma Selic final em 15%.
Falando dos últimos indicadores econômicos divulgados em março, IBC-Br, IPCA-15 e dados do mercado de trabalho, eles apontam para uma atividade ainda aquecida no Brasil, mas que dá sinais de uma desaceleração lenta.
Mercado de trabalho
O dado do Caged, por exemplo, veio forte, maior número de geração de empregos desde 2020. No entanto, quando olhamos para o aumento da taxa de desemprego e a queda na população ocupada na PNAD Contínua, percebemos sinais de enfraquecimento em outras partes da economia, especialmente no setor informal.
Isso significa que na economia há uma desaceleração em andamento, o que já era esperado devido à política de juros altos. Com a alta da Selic e enfraquecimento do crescimento econômico, as empresas estão contratando de forma mais seletiva.
IBC-Br, prévia do PIB
A prévia do PIB veio em 0,90%, bem acima do consenso que esperava 0,22%. A realidade entrega uma atividade mais forte, o que é bom para o PIB, para a renda e para o consumo. O problema é que para o atual cenário que já mostra uma inflação persistente, indica que o BC precisa de uma postura ainda mais conservadora em relação a taxa de juros.
IPCA-15, prévia da inflação de março
O IPCA-15 de março ficou em 0,64%, abaixo da expectativa de 0,70%, o que indica uma leve desaceleração da inflação. Ainda assim, os preços continuam subindo em todos os setores, com destaque para alimentos e transportes.
Comparando ao mês passado, de fevereiro, podemos dizer que os preços tiveram certo alívio, mas vale lembrar que em fevereiro tivemos situações de sazonalidades escolares e o bônus de Itaipu, que acabaram puxando bastante o indicador.
O que podemos esperar sobre inflação, Selic e mercado de crédito?
Devemos ver os próximos indicadores econômicos sinalizando de forma mais clara os resultados desses juros mais altos. Ao menos é o que se espera. O Banco Central mantém o foco na convergência da inflação à meta, mas sem uma melhora expressiva nos dados e na trajetória fiscal, o início de cortes na Selic parece improvável antes de 2026.
Para o consumidor, isso significa crédito mais caro e uma economia mais lenta, na tentativa de segurar a alta dos preços. Setores mais sensíveis ao custo do crédito, como comércio, indústria e construção civil, devem sentir o impacto mais forte da alta dos juros, com desaceleração no consumo e investimentos.
No setor de crédito para empresas, já percebemos uma mudança de comportamento, onde há uma busca maior por crédito mais estratégico, que ofereçam fôlego financeiro sem comprometer a saúde do caixa.
Com os spreads de crédito elevados, vemos um movimento maior na busca por soluções alternativas ao crédito bancário tradicional, como operações estruturadas via FIDCs. Empresas de maior porte, que conseguem acessar instrumentos sofisticados de captação, estão diversificando suas fontes de liquidez para evitar os custos elevados dos financiamentos bancários convencionais.
Em resumo, considerando o que temos de cenário hoje, tudo indica que apenas em 2026 teremos um alívio do aperto monetário e consequentemente custos menores no crédito para empresas.
Autor: Volnei Eyng
Fundador e CEO da Multiplike, uma gestora de recursos com 25 anos de história e mais de 30 bilhões de crédito cedido.
Sócio benemérito da ABRAFESC;
Graduado em Administração e Economia;
MBA na HSM Management em Gestão de Negócios;
MBA em Macroeconomia.
