Aquisição de títulos por todos os tipos de fundos saltou de 8% para 27% entre janeiro e fevereiro; recorte é sazonal, mas demanda de emissores deve crescer

O apetite dos fundos por debêntures incentivadas de infraestrutura mais que triplicou em um mês. Se em janeiro esses agentes adquiriram 8% do total das ofertas, de R$ 13 bilhões, em fevereiro, os fundos ficaram com 27% de uma soma num volume similar – que chegou a R$ 12,8 bilhões. Os dados são de relatório mais recente da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), publicado ao final de março sobre debêntures incentivadas, e as aquisições consideram todos os tipos de fundos.
Apesar do curtíssimo prazo observado, um olhar para um período mais longo evidencia uma tendência: não só cresce o apetite dos fundos por esse tipo de papel, mas, também, há um protagonismo dos fundos listados de infraestrutura nas compras. Debêntures podem ser adquiridas pela maioria dos fundos de investimentos, listados e não listados na B3. “Não é desprezível a participação de fundos não listados de infraestrutura [nas aquisições desse tipo de título]. Mas o crescimento mais acelerado vem dos fundos listados, a meu ver”, comenta Samer Serhan, sócio e CIO de estratégia de crédito privado e infra na JiveMauá. A B3 reúne atualmente 30 Fundos de Investimentos em Infraestrutura (FI-Infra).
Comparados os volumes patrimoniais entre FI-Infra e Fundos Imobiliários (FIIs) listados, estrelas da bolsa brasileira pelo interesse do investidor de varejo, a distância ainda é significativa: enquanto o universo do primeiro soma R$ 12 bilhões, os FIIs detêm R$ 220 bilhões. Contudo, o avanço dos FI-Infra vem ocorrendo com rapidez. Somente no ano passado, a alta patrimonial dos fundos de infraestrutura foi de 105% em comparação a 2023, para o total citado.
Observado apenas o recorte do primeiro bimestre deste ano, gestores consultados comentam que há um efeito sazonal não muito claro. “Difícil fazer um comentário muito preciso sobre o que motivou a alta de 8% para 27% [de compra de debêntures por fundos] num mês a mês. O fato é que os 8% são um número relativamente baixo, enquanto os 27% estão mais próximos do que tem sido média”, comenta Petrônio Cançado, head de crédito da Occam Brasil.
O gestor afirma que, por ora, nestes primeiros meses do ano, manteve o ritmo de compras de debêntures incentivadas. “Mas eu acho que vai ter um aumento ao longo do ano, de volume comprado por fundos. O apetite do investidor para esses títulos continua elevado”, continua Cançado. Na JiveMauá a leitura é a de que, estruturalmente, os FI-Infra serão os grandes investidores desses papeis. “Seja pelo crescimento da classe de fundos em si, atrativo para o investidor devido a isenções tributárias e à qualidade dos ativos investidos, seja pela demanda das companhias emissoras”, continua Serhan.
O volume de projetos no horizonte é significativo. Somente em rodovias e saneamento, que prometem despontar em apetite por captação em 2025, poderão demandar no mínimo R$ 300 bilhões. O volume de leilões anunciados por esferas federais e estaduais chegava perto de 60 ao final do primeiro bimestre.
Segundo o relatório publicado pela Anbima ao final de março, as ofertas de debêntures incentivadas totalizaram R$ 12,8 bilhões, distribuídas em 13 séries, em fevereiro, com destaque para transporte e logística – segmento líder em emissões no período, com quase 60% do total. Se observados os últimos doze meses, contudo, lidera energia elétrica.
Na vertical de crédito privado, infraestrutura e previdência da JiveMauá, boa parte dos cerca de R$ 2,3 bilhões em operações de crédito envolvem investimentos em debêntures incentivadas de energia, transportes, portos e aeroportos, telecomunicações e, mais recentemente, saneamento. Serhan detalha que a preferência pelos títulos incentivados está ligada ao perfil dos emissores, os quais contam com previsibilidade de receita e estabilidade regulatória. “Eles participam de concessões e estão inseridos em subsetores altamente regulados”, diz.
Energia tem evidenciado demanda por recursos em geração, transmissão e distribuição – e atraído atores para o universo das incentivadas. Como exemplo, ontem, a GDS Subholding, controlada da GDS Energia Renovável, do grupo Colibri Capital, anunciou sua primeira emissão de debêntures verdes de infraestrutura, num total de R$ 410 milhões. Os títulos são remunerados a IPCA +10,20%/ano, com vencimento em 2043. A emissão obteve rating nacional ‘AA(bra)’ com perspectiva estável da Fitch Ratings, acima do rating do Brasil (BB), informou a companhia, em nota.
Apetite das concessionárias
Só o Ministério dos Transportes divulgou a realização de 15 leilões de projetos federais para 2025, informação oficial. Os projetos federais demandarão algo em torno de R$ 161 bilhões. Se somados aos estaduais, a conta poderá chegar a R$ 200 bilhões, segundo um cálculo da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
A captação costuma ocorrer no intervalo de dois a três anos da realização dos certames, a partir da assinatura dos contratos, disse recentemente à Capital Aberto Marco Aurélio Barcelos , diretor presidente da ABCR.
Os desafios para a mobilidade são reconhecidamente históricos no Brasil, e os projetos envolvem desde melhoria (e construção de novas) rodovias federais e estaduais, além do desenvolvimento do transporte público nas grandes cidades – seja modal rodoviário ou ferroviário.
Mesmo que pessoas venham abdicando do direito de dirigir – por menor poder aquisitivo ou preferência por outros meios que não o automóvel – o número de veículos em circulação continua crescendo, comenta Cassio Pagliarini, CMO da Bright Consulting. “São necessários, portanto, investimentos para desafogar gargalos como os que existem para entrar e sair de São Paulo, a exemplo de Fernão Dias, Castelo Branco e Dutra. Já na cidade, tem que haver aporte em transporte público”, segue.
Mobilidade por essas vias também tem caminhado. Em um dos movimentos mais recentes em São Paulo, a família do fundador da aérea Gol, controladora do Grupo Comporte, acaba de arrematar (em 31 de março) três linhas da CPTM por R$ 14,3 bilhões em investimentos, além de ter a obrigação de operar o Expresso Aeroporto.
Já em saneamento, estão previstos ao menos 26 processos licitatórios envolvendo 854 municípios no país todo, com investimentos necessários que podem chegar a R$ 72 bilhões, informou recentemente a Abcon/Sindcon, que reúne as concessionárias privadas de prestação de serviços de água e esgoto.
Fonte: https://capitalaberto.com.br/dowjones/fi-infra-puxa-mercado-de-debentures-incentivadas/

Tudo Sobre FIDCS
A plataforma com as principais notícias do mercado! No Tudo Sobre FIDCs, você encontra tudo o que precisa saber sobre o universo dos FIDCs: notícias diárias, relatórios de mercado e estratégias para se manter sempre à frente.
Acompanhe e esteja bem informado sobre o mercado de capitais.