Todos os recebíveis podem se transformar em fundos de direitos creditórios, mas a diversificação em excesso pode atrapalhar a gestão, alertam especialistas

A versatilidade é um dos grandes trunfos dos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) para obter forte crescimento enquanto a renda fixa é o principal destino dos investimentos no Brasil. Esses fundos financiam empresas de diversos setores, como varejo, serviços, indústria e até times de futebol.
Com os temas variados, alguns fundos chamam atenção do público. Mesmo os torcedores do São Paulo pouco ligados em economia e investimentos podem ter esbarrado em notícias sobre os FIDCs, já que o clube lançou um no ano passado, por exemplo.
Eduardo Siqueira, diretor de RI e DCM da SRM Asset, explica que “qualquer tipo de recebível é ‘fidicável’ e, como a estrutura desses fundos foi desenhada para trabalhar com recebíveis, há um escopo muito grande de setores e teses”.
Casas Bahia
A varejista anunciou em fevereiro o início operacional de seu FIDC com capital de R$ 300 milhões e objetivo de chegar a R$ 500 milhões. O fundo estruturado pela Polígono Capital e administrado pelo BTG Pactual adianta à Casas Bahia (BHIA3) valores que a varejista tem a receber dos clientes que compraram via crediário.
São Paulo F.C.
As gestoras Galapagos e OutField estruturaram um fundo para que o clube paulista consiga reestruturar parte de suas dívidas. O time vendeu os créditos a receber por direitos de transmissão, naming rights e patrocínios. O objetivo no lançamento do instrumento era captar R$ 240 milhões para pagar dívidas antigas e concentrar o novo passivo em um único credor.
GWM
A montadora chinesa de carros elétricos criou um FIDC para apoiar suas concessionárias na compra de carros usados. A ideia é usar o dinheiro para comprar os carros usados envolvidos na negociação dos veículos novos e liberar o capital das lojas. O fundo começou disponibilizando R$ 60 milhões às concessionárias, mas com previsão de chegar a R$ 500 milhões em créditos.
Petrobras
Os FIDCs de cartão de crédito são muito comuns no Brasil. O maior deles está ligado à Petrobras. O FIDC do Sistema Petrobras é o maior do segmento, segundo a Nord Investimentos, com R$ 96,6 bilhões sob gestão.
Quando a versatilidade é um problema
A diversificação pode passar de trunfo a fraqueza de um fundo quando há exageros, dizem especialistas ouvidos pelo InfoMoney. Os FIDCs dependem do pagamento dos recebíveis para gerar lucros. Portanto, se um gestor pulveriza sua operação além do que consegue acompanhar, a versatilidade se torna um problema.
“A diversificação excessiva pode levar a uma queda na qualidade dos ativos dentro do fundo”, diz Phylipe Corsini, head de distribuição da CVPAR Business Capital. Ele diz que em fundos muito pulverizados, com grande número de cedentes, “pode ser difícil monitorar a qualidade dos recebíveis individualmente”.
Quando o FIDC tem recebíveis muito diferentes em características importantes, como risco e liquidez, a gestão se torna mais complexa, afetando a previsibilidade dos fluxos de caixa, pontua Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments.
No entanto, Redivo lembra que “a maioria das gestoras foca em um tema específico, como crédito corporativo, varejo ou energia, o que reduz a assimetria de informações e melhora a eficiência na análise de risco e na estruturação dos recebíveis”.
Quando bem planejada, a maior pulverização ainda pode ser uma boa estratégia, segundo Siqueira. Ele defende que teses como Multi Cedente Multi Sacado, que operam com empresas de naturezas distintas, podem diluir o risco em mais ativos.
Onde os FIDCs não chegam?
Modelo de negócio, restrições regulatórias e falta de ativos elegíveis ainda são barreiras para a penetração dos FIDCs em alguns setores. Empresas de tecnologia que cobram pela assinatura de softwares têm potencial para usar mais esse instrumento para antecipação de receitas recorrentes, segundo Redivo.
Ele ainda destaca o setor de saúde como um dos que têm espaço para crescer: “no financiamento de recebíveis hospitalares ou antecipação de pagamento de planos de saúde”. Empresas do setor de energia renovável também podem usar mais os FIDCs para financiar projetos antecipando as receitas de contratos de fornecimento, diz o sócio da Aware.
Já Corsini, da CVPAR, explica que setores sem fluxo previsível de recebíveis têm menos espaço nesse mercado. Alguns exemplos são mineração, exploração de petróleo e gás e empresas de tecnologia sem um modelo de negócios baseado em assinaturas. “Os FIDCs dependem de valores a receber originados de transações comerciais ou financeiras e setores que não geram recebíveis estruturados não são viáveis para os FIDCs”, pontua o especialista.
Setores considerados muito voláteis também não atraem esse tipo de fundo. Startups em estágio inicial – que ainda não têm histórico sólido de faturamento – e produtoras de eventos e filmes – com receitas variáveis e incertas – são exemplos usados por Corsini de segmentos arriscados e que não fazem sentido para a indústria de FIDCs.

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