Os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) se destacaram em 2024 no Brasil e parecem ser a “bola da vez” no mercado local. O patrimônio líquido (PL) do segmento cresceu 31,4% em 2024, chegando a R$ 594,3 bilhões em dezembro, e 973 novos veículos foram lançados no ano passado.
O crescimento acontece diante de um maior apetite pela rentabilidade observada na renda fixa – e, mais que isso, nos prêmios, ou spreads, de títulos de crédito estruturado – isto é, a diferença entre a rentabilidade destes títulos em relação à taxa básica de juros da economia.
O desempenho também acontece após o fim da proibição de o investidor geral – pessoa física com menos de R$ 1 milhão – aplicar nesse tipo de fundo, o que amplia o público que se volta para os FIDCs.
Multimercados em baixa
Ao mesmo tempo em que os FIDCs cresceram, os fundos multimercado (FIMs) encolheram, tanto em PL quanto em número. Parte dos recursos dos FIMs parece estar fluindo para os FIDCs. Um dos motivos desse fluxo? Eficiência tributária, segundo Caio Ferreira Silva, sócio do Pinheiro Neto Advogados.
“Um pedaço da explicação do resgate líquido dos multimercados é a migração dos fundos com bastante crédito privado para a estrutura dos FIDCs”, diz o advogado, acrescentando que o cenário macro e a demanda do brasileiro por renda fixa são o que justificam boa parte da saída dos FIMs.
“O mercado brasileiro sempre foi mais forte em renda fixa do que em renda variável, e com parcela dominante em títulos públicos. Mas o crédito privado tem crescido, com as empresas buscando captação“, destaca André Mileski, sócio de Fundos de Investimento do Lefosse.
Erivelto Rodrigues, presidente executivo da Austin Rating, concorda e destaca outro ponto: as empresas que têm recebíveis descobriram que as transações por meio de securitização têm custos menores na comparação com o sistema bancário tradicional. E aí acabam buscando os FIDCs, que são uma forma de securitizar seus recebíveis.
A transformação de multimercados com “bastante crédito privado”, como diz Silva, em FIDCs é ilustrada por alguns números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Entre dezembro de 2023 a março de 2025, 73 multimercado foram transformados em FIDCs. O pico da mudança foi em dezembro de 2023, com 50 transformações. O período não é coincidência.
“Quando analisamos os dados levantados, vemos que no mês de promulgação da Lei 14.754, que alterou a tributação dos fundos fechados, houve uma maior procura por esse tipo de transformação”, informou a Anbima, em nota.
“Hoje vemos casas que antes eram muito fortes em multimercados ou multiestratégia buscando ampliar sua atuação em produtos específicos de renda fixa, e os veículos mais adequados acabam sendo FIDCs ou produtos com incentivo [fiscal], como fundo de infraestrutura ou imobiliário”, observa Mileski.
FIDC e suas limitações
O sócio do Lefosse destaca alguns pontos de atenção para os investidores. Para quem tem interesse em investir em FIDCs, é importante saber que não se trata de um veículo para exposição a qualquer tipo de crédito privado e há limitações, como na alocação internacional. Para quem foi informado de que seu fundo vai se transformar em um FIDC, vale conferir a política de investimentos da estrutura.
O associado sênior do Pinheiro Neto Advogados, Felipe Tucunduva van Heemstede, pontua que a decisão de transformar um FIM em FIDC é, essencialmente, um trabalho de análise profunda do portfólio. “Se o portfólio é crédito privado, vale a pena migrar para o FDIC. Se o portfólio tem outros ativos, talvez seja melhor apartar os ativos em mais de um fundo, mantendo o FIDC”, afirmou o advogado.
O que são FIDCs?
Os FIDCs são veículos de investimento que aplicam recursos em direitos creditórios, ou também chamados de recebíveis. Trata-se do direito que uma empresa ou entidade tem de receber valores futuros. Algo semelhante a uma folha de cheque, um título que deve ser descontado.
Assim, o gestor de um FIDC vai aplicar recursos em direitos creditórios, que são títulos representativos de crédito por parte de empresas que podem ser de diversos segmentos, como o imobiliário, o comercial e o financeiro. Esses direitos são cedidos ao fundo em troca de pagamento imediato ou futuro, mediante uma taxa.
O rendimento dos FIDCs decorre da valorização daqueles recebíveis, e o investidor pode ser remunerado quando as companhias que cederam seus direitos pagam seus compromissos.

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