
Gosto muito de fazer essa reflexão: crédito é como segurar um passarinho nas mãos. Se afrouxa demais, ele foge; se aperta demais, ele morre.
Conceder crédito é uma arte que se aprende na prática, com o dia a dia, com os cabelos brancos e com a experiência de quem colhe erros e acertos ao longo do tempo. Não é apenas um cálculo matemático, mas um processo que envolve decisões complexas e variáveis que nem sempre são previsíveis.
Relação investidor, credor e tomador
Para fazer crédito de forma eficiente, é essencial compreender qual tipo de credor você é e qual perfil de tomador você busca. O mercado de crédito não é homogêneo: existem diferentes perfis de tomadores, desde aqueles com alto grau de previsibilidade e baixo risco até os que possuem maior volatilidade e exigem uma avaliação mais criteriosa. Saber equilibrar essas variáveis é fundamental para garantir boas operações.
Nos FIDCs, por exemplo, tudo pode começar pelo custo da captação dos recursos junto aos investidores, o que influencia diretamente o preço final do crédito para o tomador. Esse tipo de estrutura exige um alinhamento estratégico entre os interesses de quem investe e de quem toma o crédito. Afinal, um preço de captação elevado pode tornar o crédito pouco competitivo no mercado, enquanto um preço muito baixo pode comprometer a rentabilidade do fundo.
Fatores que influenciam a decisão de conceder crédito
A tomada de decisão em uma análise de crédito passa por uma série de fatores, é como colocar diversos ingredientes em uma balança, buscando uma operação boa e segura a todos os envolvidos. Alguns tópicos avaliados devem ser:
Análise de perfil do tomador: histórico de crédito, capacidade de pagamento e consistência financeira.
Tipo de garantias oferecidas: avaliação da liquidez e do valor de mercado dos ativos atrelados ao crédito.
Cenário econômico: oscilações do mercado, taxa de juros e estabilidade setorial.
Estratégia do credor: objetivos de crescimento, apetite por risco e modelo de negócio adotado.
O equilíbrio é saber tomar risco
Crédito é equilíbrio. Saber encontrar o ponto certo entre risco e retorno, controle e flexibilidade, é o que diferencia um bom gestor de crédito. Empresas que concedem crédito sem critérios claros podem sofrer com inadimplência elevada, enquanto aquelas que são excessivamente conservadoras podem perder boas oportunidades de negócio.
No fim das contas, um passarinho bem cuidado não foge e nem morre, ele cresce e se fortalece. E assim deve ser com o crédito: bem estruturado, bem monitorado e sempre ajustado para voar na direção certa.
Autor: Volnei Eyng
Fundador e CEO da Multiplike, uma gestora de recursos com 25 anos de história e mais de 30 bilhões de crédito cedido.
Sócio benemérito da ABRAFESC;
Graduado em Administração e Economia;
MBA na HSM Management em Gestão de Negócios;
MBA em Macroeconomia.
