Operações no secundário avançaram 40%, para pouco mais de 415 mil, e o volume chegou a R$ 19 bi, mostra levantamento
Visto até há pouco tempo atrás por gestores como um instrumento sem liquidez, os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) estão se multiplicando – e o ganho de musculatura desse universo vem alterando a dinâmica das negociações. Indicadores de liquidez observados pela Uqbar, o volume de operações e o financeiro, vem crescendo ano a ano. O número de negócios cresceu 40% entre 2023 e 2024, quando ocorreram pouco mais 415 mil operações envolvendo cotas – apenas um produto, o Fiagro-FIDC Crédito Agrícola, administrado pelo BTG, respondeu pela maior parte delas. Ainda assim, o volume financeiro totalizou R$ 19 bilhões no ano passado, com alta de 2% sobre o ano anterior.
Se excluído esse produto, o volume foi de R$ 18,96 bilhões em pouco mais de 65 mil operações – com altas respectivas similares às já citadas (ver quadro). Se observado um recorte mais longo, comparando o cenário de 2024 ao de 2020, por exemplo, o volume de operações no ano passado saltou quase 2000% (há apenas quatro anos ocorreram cerca de 20 mil negociações de cotas de FIDCs no secundário).
À época, o volume financeiro era de R$ 17 bilhões. Vale dizer que nos primeiros anos de pandemia de Covid-19, 2020 e 2021, houve um volume significativo de estruturação de FIDCs de cartão de crédito. O retrato é do Anuário 2025 da Uqbar, obtido pela Capital Aberto. O trabalho será apresentado nesta segunda-feira (31) no Uqbar Experience 2025, que ocorre na B3. Tudo indica que, neste ano, o avanço da liquidez no universo desses fundos vai continuar firme.
“A entrada dos investidores de varejo em FIDCs, viabilizada pela CVM 175, uma melhora (mesmo que ainda tímida) na transparência do mercado e a popularização desses fundos como alternativas viáveis de financiamento são alguns fatores que podem beneficiar a liquidez”, comenta Alfredo Marrucho, diretor de conteúdo da Uqbar.
Na ponta de emissores, muitas fintechs e outras ‘techs’ têm corrido para buscar crédito junto a esses fundos, num movimento crescente ligado à alternativa de embedded finance (empresas criando seus próprios braços financeiros). Médias empresas, com os perfis mais variados (a exemplo dos clubes de futebol), têm recorrido a essa via em meio a um cenário macroeconômico de juros mais elevados, no qual os bancos elevam a régua de critérios e apertam os cintos.
Delano Macêdo, sócio-diretor da Solis Investimentos, atua com FIDCs há pelo menos duas décadas, e pondera que o volume no secundário ainda é baixo se considerado o patrimônio total dos cerca de três mil fundos desse perfil que operam no mercado brasileiro. “São R$ 19 bilhões circulando no secundário e a indústria de FIDCs tem um estoque de aproximadamente R$ 600 bilhões”, comenta, citando dado da Associação Brasileira de Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Macêdo também enxerga a tendência de alta para liquidez. “A gente acredita que, à medida que o volume desses fundos aumente, é natural que haja um processo de gestores elevando a quantidade nas suas carteiras”, diz o sócio da Solis. Gestores de crédito, da Occam e Tivio Capital, por exemplo, afirmaram recentemente o interesse em alocar em FIDCs para diversificar.
Entre as causas para isso, a pulverização dos ativos. “A perda não te machuca e você consegue ter um bom resultado, devido à pulverização das carteiras”, comenta Petrônio Cançado, head de crédito da Occam. “Há uma divisão de riscos onde, geralmente quem origina a operação, está na primeira perda.”
Segundo Marrucho, da Uqbar, o cenário contribui para que emissões e liquidez de FIDCs renovem suas máximas em 2025. A companhia avalia que o recorte de dados revela uma “tendência expressiva” de crescimento, tanto no volume financeiro negociado quanto no número de transações ao longo de 2024, ampliando a evolução observada nos anos anteriores – mesmo que um só produto tenha concentrado maior volume de operações em 2023 e 2024.
Sozinho, o Fiagro Crédito Agrícola, administrado pelo BTG, puxou mais de 300 mil operações no secundário, embora seu montante negociado tenha sido relativamente baixo, somando R$ 151,81 milhões, informa o Anuário 2025. Procurado, o BTG não concedeu entrevista. Em volume financeiro, destacou-se o FIDC Bancos Emissores de Cartão de Crédito – Stone IV, ao somar R$ 848,22 milhões negociados em 68 transações no ano passado.
A Uqbar explicita, ainda, um recorte de ambiente: todos os FIDCs negociados em bolsa são do tipo Fiagro, enquanto no mercado de balcão houve maior diversidade. “Observa-se uma dicotomia entre os mercados de bolsa e balcão”, conclui o texto da Uqbar. É que enquanto as cotas negociadas em bolsa totalizaram R$ 168,5 milhões, em 368.344 transações, no balcão foram 46 mil negociações que movimentaram R$ 18,95 bilhões.
Cotas preferidas
Sobre perfis de cotas, as de subclasse sênior tiveram destaque em comparação às subordinadas mezanino, júnior e únicas, que apresentaram menor volume de negociações, segundo o Anuário da Uqbar. Macêdo, da Solis, reitera que há lógica no movimento, visto que 80% do total de cotas disponíveis é sênior – e as que têm menor risco. Com o aumento de interesse já houve mudança em precificação, mas “nada parecido com o achatamento que ocorreu em debêntures”, continua o sócio da Solis. O FIDC não tem característica, disse, de high yield. “Não é exatamente isso. Mas o FIDC olha para nichos específicos de mercado que não têm uma concorrência tão grande, “então ainda consegue-se ter uma precificação interessante”, avalia.
Mercado primário: alta de 35%
No mercado primário – que acaba por impulsionar o movimento no secundário – o ano de 2024 também foi agitado. As emissões cresceram 35%, para R$ 221 bilhões, informa a Uqbar.
O cenário macroeconômico de juros elevados pode ajudar a explicar parcialmente esse aumento, uma vez que a taxa CDI, frequentemente utilizada como indexador em diversos títulos, combinada a um spread adicional, ofereceu atratividade para os investidores e impulsionou as emissões, diz o texto.
Ainda no levantamento da Uqbar, os fundos de condomínio fechado mantiveram destaque nas emissões em comparação aos fundos abertos, assim como nos anos anteriores. Contudo, a diferença diminuiu “consideravelmente”, o que pode indicar uma menor aversão à volatilidade desta categoria de fundo por parte dos investidores.
Um outro aspecto observado é o tipo de ativo lastro. Os recebíveis comerciais lideraram as emissões, seguidos por crédito pessoal e crédito pessoa jurídica, mantendo o padrão de 2023 – quando esses três tipos de FIDC somaram, juntos, cerca de 63,35% do total de emissões. Em 2024, o ‘top 3’ se manteve, representando 61% do total das emissões.
Fonte: https://capitalaberto.com.br/gestao/fidcs-atraem-gestores-e-liquidez-cresce/

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