Por Volnei Eyng

O ano de 2024 registra um número recorde de recuperações judiciais (RJs), especialmente entre pequenas e médias empresas. Contudo, antes de soar o alarme, é fundamental entender o contexto e os fatores por trás desse fenômeno. Gigantes do agro, especialmente, chamaram muita atenção sobre o tema. A seguir, destaco algumas reflexões e orientações importantes tanto para empresas quanto para credores.
Por que o aumento de RJs?
Apesar do aumento numérico expressivo de pedidos de RJ, o cenário se torna menos alarmante quando consideramos o crescimento na abertura de CNPJs. Se olharmos a proporção percentual, o crescimento das RJs é linear, acompanhando a expansão de novas empresas.
O que percebemos hoje é que que mais negócios têm conhecimento da ferramenta de RJ e recorrem a ela, o que pode ser resultado de uma disseminação mais ampla da legislação em vigor desde 2005.
Com o tempo, a lei de recuperação judicial passou a ser mais bem compreendida, tanto por advogados quanto pelos próprios empresários. O conhecimento dessa legislação faz com que a RJ seja vista como uma ferramenta viável para reestruturar negócios em dificuldades.
Má gestão financeira: vilã ou apenas parte do problema?
Associar pedidos de recuperação judicial a má gestão financeira é simplificar um problema complexo. As empresas enfrentam uma série de desafios que podem impactar sua rentabilidade e caixa, como variações no mercado, crises econômicas e oscilações na demanda. Isso fica evidente principalmente pelas últimas RJs pedidas por gigantes do agro, eu vou me ater aos fatos no próximo subtítulo.
Por que tivemos tantas RJs no Agro?
Nos últimos dois anos, o setor agropecuário passou por dificuldades. No primeiro ano de problemas, consideramos o preço das commodities que não foi bom, pegando o agro de surpresa, pois vinha de um período de preços altos e grandes investimentos, o que aumentou o endividamento dos agricultores. Além disso, com a guerra entre Ucrânia e Rússia, os custos dos insumos dispararam.
No segundo ano, a seca afetou a produtividade, combinada com a queda dos preços, o que impactou ainda mais os produtores que já haviam investido bastante. Com isso, muitos ficaram mais alavancados e prejudicados.
Hoje, há um excesso de produtores mal orientados e um número crescente de recuperações judiciais, quando poderiam ter buscado outras soluções.
RJ pode e deve ser evitada por empresários
O ideal para empresários é evitar ao máximo um pedido de RJ, e a solução começa com um olhar criterioso sobre a última linha do balanço: a rentabilidade.
Em momentos de dificuldades financeiras, algumas medidas são fundamentais:
- Reduzir custos: Enxugar a operação e rever processos para aumentar a eficiência.
- Rever a curva ABC: Focar nos produtos ou serviços que mais geram resultado.
- Cautela com investimentos: Adotar uma postura conservadora até que a situação melhore.
A empresa deve dar um “passo para trás” para futuramente continuar a caminhar pra frente, buscando repactuar dívidas e alongar passivos, com foco em uma retomada sustentável.
Credores atentos: como se proteger?
Para os credores, o acompanhamento próximo das informações e do dia-dia das empresas é essencial. No crédito, a gente costuma falar que a empresa conversa com os credores, as empresas sempre dão sinais antes de uma recuperação judicial. O segredo é ficar atento e agir rapidamente quando perceber sinais de alerta.
Nesse sentido, credores devem buscar renegociar dívidas antes da empresa entrar em RJ, é mais vantajoso. Isso pode incluir a busca por garantias reais, como alienações fiduciárias, que deixam o credor fora do risco de uma recuperação judicial.
Conclusão
O aumento das RJs em 2024 não deve ser encarado como um alerta vermelho imediato, mas sim como um convite para que tanto empresários quanto credores fiquem atentos e revejam suas práticas financeiras.
O cenário exige atenção, mas também abre espaço para estratégias de gestão e renegociação mais inteligentes.
Fonte: (28) Aumento de RJs: é hora de apertar o botão alerta? | LinkedIn