Na visão de sete entre as mais relevantes gestoras independentes do país temores na frente fiscal são crescentes
Os gestores de fundos multimercados macro, que olham de perto para indicadores da economia para se posicionar em diversas classes de ativos, estão em alerta. Diante das idas e vindas do governo com o anúncio do pacote de controle de gastos, a leitura é uma só: o ajuste anunciado ano passado é insuficiente para endereçar os problemas do país.
Para a Genoa Capital, o pacote fiscal, que foi uma oportunidade de enviar um sinal de maior cuidado com as contas públicas, passou a ser “um palanque para anunciar a medida de isenção de imposto de renda até R$ 5 mil”, um projeto “com sérios riscos” de gerar efeitos para a política fiscal. “Já operamos como se estivéssemos em 2026, ano eleitoral”, diz a casa.
A visão é semelhante ao que afirma a Legacy Capital, que ressalta aos seus investidores que o pacote de cortes de gastos do governo “não é capaz de produzir uma trajetória de convergência para a dívida”. “O Banco Central, mesmo pré-contratando mais duas elevações de juros, não será capaz de, sozinho, reverter a piora das expectativas e da confiança, que poderá se intensificar à frente.”
Na mesma linha, a Kapitalo Investimentos diz que a preocupação dos agentes econômicos com a agenda fiscal “ganhou outros contornos”, com uma dinâmica que preocupa cada vez mais o mercado e que exige que o governo trabalhe mais para recuperar a credibilidade. “Entendemos que o governo deve apresentar medidas adicionais para lidar com esse tema”, diz a gestora.
Para a Ace Capital, o que começou “com um incômodo com a política fiscal” de curto prazo do governo evoluiu rapidamente “para uma crise de confiança generalizada”. “Fica cada vez mais consolidada a visão de que a cabeça do governo já está no pleito de 2026”, diz a gestora. “A probabilidade de qualquer ajuste fiscal de verdade começa a cair drasticamente, enquanto a probabilidade de mais medidas populistas aparecerem ao longo do tempo aumenta.”
A JGP, também no rol entre as mais relevantes gestoras independentes, ressalta a proposta do governo pode não ser suficiente para cumprir as metas de resultado primário contidas no arcabouço fiscal — 0% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e 0,25% do PIB em 2026. “Não se pode excluir a ocorrência de outros episódios de deterioração financeira em 2025”, afirma a casa.
A Absolute Investimentos deu ênfase ao movimento recente do câmbio. Para a casa, mesmo com a utilização de reservas cambiais, a expressiva depreciação do real chama a atenção, em meio a uma crise de confiança persistente. “Sem medidas claras que demonstrem o compromisso do governo com a gestão da dívida pública, a crise de confiança atual impacta negativamente o fluxo cambial e intensifica a volatilidade da moeda”, nota.
A gestora Opportunity também acompanha o cenário, destacando que diversas economias continuam apresentando “sinais mais fortes de debilidade”. “No Brasil, ainda nos preocupamos com a falta de âncora fiscal sólida”, diz a casa. “As prioridades da base do governo não parecem ter sofrido alterações significativas.”