Com o aumento das taxas de juros, a valorização do dólar e mais restrições ao crédito, a previsão é que o número de empresas em recuperações judiciais vai aumentar
Apesar de 2024 exibir economia aquecida e a maior taxa de crescimento econômico em mais de uma década, o número de empresas que entrou em recuperação judicial bateu recorde – 2.273, com um aumento de 61,8% em relação a 2023. Foi superado o recorde anterior, de 1.863 pedidos em 2016, informou a Serasa Experian. As micro e pequenas empresas foram as mais afetadas, representando quase três quartos dos pedidos de recuperação, um aumento de 78,4% em relação a 2023.
Com um passivo consolidado ao redor de R$ 50 bilhões, a Polishop, a rede de supermercados Dia, a Casa do Pão de Queijo, a Patense, a OEC, braço de construção da Odebrecht, a Coteminas e a Subway são exemplos de empresas de primeira linha em dificuldade financeiras que recorreram à recuperação judicial. A mais recente delas é a Bombril, com passivo tributário de R$ 2,3 bilhões.
As micro e pequenas empresas foram as mais afetadas em quantidade por terem menos capital de giro, menor acesso a empréstimos e falta de estrutura gerencial. Representaram 73,7% dos pedidos de recuperação. As companhias de médio porte foram o segundo grupo que mais pediu recuperação judicial em 2024 (18,3%), seguido das de grande porte (8%). Entre os setores, o de serviços liderou, com 41% do total registrado pela Serasa, pela representatividade na economia. As falências, porém, na contramão, diminuíram 3,5% na comparação anual.
Mas dois setores se destacaram em pedidos de recuperação em 2023, de acordo com dados do Monitor RGF da consultoria RGF & Associados. Um deles é o do agronegócio, afetado pela redução da produção causada por fatores climáticos negativos, pela queda dos preços das commodities e pelo aperto na concessão de crédito.
Segundo o Monitor RGF da Recuperação Judicial, 264 companhias do agronegócio estavam em recuperação judicial no terceiro trimestre de 2024. Na passagem para o quarto trimestre, mais 35 empresas entraram no grupo, enquanto apenas quatro o deixaram, elevando o número para 295 empresas, 38,5% a mais do que no mesmo período de 2023. Pequenos produtores e grupos familiares foram os mais afetados, pela falta de estrutura profissionalizada e de conhecimento financeiro no comando das empresas.
Nada menos do que 34% das empresas em recuperação judicial no quarto trimestre tinham o cultivo de soja como atividade principal, segundo a RF Consultoria. A criação de bovinos de corte vinha na sequência, com 20%, enquanto as companhias de cultivo de cana-de-açúcar eram 15%. Fazem parte da lista também empresas de serviços de preparação de solo, cultivo e colheita (5% delas) e companhias de milho (4%).Um dos episódios mais conhecidos de recuperação judicial nessa área, em 2024, foi o da distribuidora de insumos Agrogalaxy, afetada pela queda das commodities. Esse caso e de outras empresas do setor teve repercussões negativas no mercado financeiro, interrompendo a expansão dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros), que vinham se tornando uma alternativa de financiamento do setor, com patrimônio de R$ 43,7 bilhões ao fim do ano passado, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os Fiagros atraíram investidores pessoas físicas pela isenção de Imposto de Renda (IR), mas perderam espaço para os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que possuem cobertura em caso de inadimplência.
As recuperações judiciais também cresceram no setor imobiliário. Das 4.568 companhias que negociavam dívidas na Justiça no fim do ano passado, segundo o Monitor RGF, a maioria (28,8%) é do setor imobiliário. A incorporação de empreendimentos imobiliários lidera o número de reestruturações, com 314 companhias nessa situação, e a construção de edifícios segue em terceiro no ranking nacional, com 212 empresas. O segundo lugar é ocupado pelas holdings de instituições não financeiras.
A expectativa de desaceleração da economia neste ano não autoriza maiores otimismos. Com o aumento das taxas de juros, a valorização do dólar e mais restrições ao crédito, a previsão é que o número de empresas em recuperações judiciais vai aumentar. As empresas, principalmente as menores, vão ter mais dificuldades para superar crises financeiras e aperto de caixa por terem menos capital de giro e acesso ao crédito. Mais da metade da dívida das empresas é com instituições financeiras. O próprio processo de recuperação judicial é custoso e dura, em média, cinco anos.
O ano de 2026 não deverá ser muito diferente e pode apresentar números ainda maiores de recuperação judicial, especialmente se o governo seguir leniente com os gastos públicos. Uma melhora depende da redução da Selic, o que não está no horizonte de curto prazo, diante da fragilidade das contas públicas. As estimativas do mercado são de que a taxa básica pode subir até acima de 15%. Uma melhora mais significativa só deve ocorrer ao menos três trimestres após uma eventual redução da Selic.

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