Elevar a Selic é uma estratégia do Banco Central para controlar a inflação, deixando o crédito mais caro e, assim, desestimulando o consumo
A alta da Selic (taxa básica de juros) anunciada nesta quarta-feira (29) pelo Banco Central, de 12,25% para 13,25%, terá impacto direto no bolso dos consumidores. Com o aumento, previsto para continuar nos próximos meses, o custo do crédito sobe, tornando os bancos mais seletivos na concessão de financiamento e empréstimos.
Segundo cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), as taxas de juros cobradas aos consumidores da pessoa física vão atingir, na média, 119,44% ao ano. Na relação entre os juros cobrados ao consumidor e a Selic significa uma variação de mais de 800%.
Elevar a Selic é uma estratégia do Banco Central para controlar a inflação, deixando o crédito mais caro e, assim, desestimulando o consumo.
Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac, 2025 será um ano de muitos desafios no crédito, com muita seletividade na concessão devido à alta dos juros.
“O consumidor num ambiente onde o país cresce menos e gera menos emprego, tende a ser mais conservador nos seus gastos”, afirma.
Oliveira alerta que a trajetória de aumento da Selic ainda não chegou ao fim e deve ser considerada por quem pretende pedir crédito. “Uma certeza é que a taxa de juros vai continuar subindo. A questão é até onde vai”, diz Oliveira.
A Anefac fez simulações sobre o efeito no curto prazo da última alta da Selic no dia a dia do consumidor considerando as principais modalidades de crédito usadas pelos brasileiros: compras a prazo no varejo, cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor para a compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
No rotativo do cartão de crédito, a taxa mensal passa de 14,86% para 14,94%. Assim, se utilizar R$ 3.000 do rotativo por 30 dias, o consumidor paga R$ 2,40 a mais de juros, subindo de R$ 445,80 para R$ 448,20 o valor total.
Para financiar uma geladeira no valor de R$ 1.500 em 12 meses, por exemplo, a taxa mensal de juros subiu de 5,20% para 5,28%, resultando em um acréscimo de R$ 9,22 no valor total pago.
No caso de um financiamento de um carro de R$ 40 mil em 60 meses, a compra vai ficar R$ 1.337,32 mais cara, segundo a simulação.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO – PESSOA FÍSICA
Linha de crédito – Taxa mensal com a Selic anterior (12,25%) – Taxa mensal com a Selic atual (13,25%) – Variação
Juros do comércio – 5,20% – 5,28% – 1,54%
Cartão de crédito – 14,83% – 14,94% – 0,54%
Cheque especial – 7,82% – 7,90% – 1,02%
Financiamento de veículos – 1,96% – 2,04% – 4,08%
Empréstimo pessoal bancos – 3,78% – 3,86% – 2,12%
Empréstimo pessoal financeiras – 6,99% – 7,07% – 1,14%
Taxa média – 6,77% – 6,85% – 1,18%
Linha de crédito – Taxa anual com a Selic anterior (12,25%) – Taxa anual com a Selic atual (13,25%) – Variação
Juros do comércio – 83,73% – 85,428% – 2,01%
Cartão de crédito – 427,26% – 431,68% – 1,04%
Cheque especial – 146,83% – 149,03% – 1,50%
Financiamento de veículos – 26,23% – 27,42% – 4,55%
Empréstimo pessoal bancos – 56,09% – 57,54% – 2,59%
Empréstimo pessoal financeiras – 124,97% – 126,99% – 1,62%
Taxa média – 119,44% – 121,42% – 1,66%
Para as empresas também haverá impacto. A taxa média de juros deve aumentar de 55,61% para 57,05% ao ano. No caso de um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, as empresas pagarão R$ 124,46 a mais. No caso de duplicatas do mesmo período no valor de R$ 20 mil, serão R$ 49,73 a mais de juros.
“Em geral, o crédito mais caro esse ano tem efeito imediato. Em termos de investimento as empresas devem diminuir um pouco com o aumento dos juros e esperar uma janela melhor para investir. Mas capital de giro as empresas não têm muita opção e precisam renovar as suas linhas que vão vencendo”, avalia Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
João Peixoto, Ceo da Ouro Preto Investimentos, prevê que um aumento na inadimplência com a elevação dos juros e nas recuperações judiciais, que já bateram recorde.
“Dentro das carteiras de crédito, nos bancos e fundos de investimento, isso faz parte da gestão do crédito. Tendo uma taxa de juros alta, você também consegue suportar uma inadimplência maior. Mas para as empresas isso é uma tragédia”, afirma.
“Os maiores bancos vão restringir mais o crédito, considerando que o risco está aumentando”, diz Peixoto.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO – PESSOA JURÍDICA
Linha de crédito – Taxa mensal com a Selic anterior (12,25%) – Taxa mensal com a Selic atual (13,25)% – Variação
Capital de Giro – 1,80% – 1,88% – 4,44%
Desconto de Duplicatas – 1,75% – 1,83% – 4,57%
Conta Garantida – 7,71% – 7,79% – 1,04%
Taxa média – 3,72% – 3,83% – 2,13%
Linha de crédito – Taxa anual com a Selic anterior (12,25%) – Taxa anual com a Selic atual (13,25)% – Variação
Capital de Giro – 23,87% – 25,05% – 4,91%
Desconto de Duplicatas – 23,14% – 24,31% – 5,04%
Conta Garantida – 143,82% – 146% – 1,52%
Taxa média – 55,61% – 57,05% – 2,60%