O pacote fiscal anunciado recentemente pelo governo gerou reações contrárias no mercado, evidenciando uma piora das expectativas econômicas e pressionando os ativos financeiros. Daniel Cunha, Macro Strategy da BGC Liquidez, analisou o cenário em entrevista, destacando a fragilidade do ambiente econômico doméstico.
“Criou-se uma expectativa muito grande de que o pacote pudesse acalmar ou até blindar o cenário no curto prazo, mas o efeito acabou sendo contrário”, afirmou Cunha. Desde a apresentação do pacote, o mercado intensificou a percepção de crise fiscal, refletindo diretamente no dólar, que registrou máximas históricas. Segundo Cunha, os investidores estão “reféns de uma nova reação política e econômica por parte da atual administração, que parece cada vez mais improvável”.
Boletim Focus agrava cenário com piora nas projeções
Os dados mais recentes do Boletim Focus, divulgados pelo Banco Central, mostraram uma deterioração das expectativas de inflação não apenas para 2025, mas também para 2026. Para Daniel Cunha, essa piora agrava a tensão no mercado: “O relatório do Banco Central evidenciou uma rodada sensível de deterioração das expectativas de inflação, criando um ambiente mais frágil e delicado.”
A expectativa agora se volta para a próxima reunião do Copom, com a possibilidade de ajustes na taxa Selic. Cunha destacou que o cenário econômico interno, aliado à falta de reação política efetiva, amplia a incerteza: “Temos uma antessala bastante tensa para a reunião desta quarta-feira, dada a combinação de piora das projeções e falta de medidas consistentes.”
Dependência de fatores externos pode aliviar mercado
Apesar do cenário doméstico deteriorado, o desempenho positivo de ativos relacionados à China pode trazer alívios pontuais. No entanto, Cunha ressalta que tais movimentos são momentâneos, enquanto o mercado interno permanece pressionado pela percepção de risco fiscal e falta de respostas estruturais. “Podemos ter alívios pontuais, mas a tendência de piora segue dominante no mercado doméstico.”